Quais são as cadeias que nos prendem? Quais são as amarras
que nos impedem de sermos verdadeiramente livres? Todos estes questionamentos
me vieram à mente hoje ao meio dia. Enquanto esperava o início da jornada
vespertina, eu e meu amigo começamos a conversar com Edinéia, uma conhecida
moradora de rua que vive nas redondezas do nosso trabalho.
Apesar de estar sob efeito etílico, a moça de 28 anos, uma
vida sofrida e muito esclarecida, parecia gritar por socorro e paramos para
ouvi-la.
Órfã, todas as vezes que falava sobre a morte da mãe, há
oito anos, não conseguia conter as lágrimas. Edinéia já passou por cinco
cesarianas, entregou três dos seus filhos para adoção, agora vive uma gravidez
psicológica, mas não aceita o tratamento necessário.
Embora carregue um olhar triste, ela é dona de uma beleza
única e, envergonhada, diz que há tempos deixou de ser uma princesa. Apesar de
não ser escrava do relógio, não precisar prestar contas a ninguém, Edinéia é
presa a uma dor imensa e um vício que chegam a sufocá-la. Para muitos ela é invisível
ou mais uma na estatística para outros.
Quando questionamos se ela queria tratamento ou ajuda para
largar o crack, ela titubeava, ora aceitava, ora desistia. Queria expor seus
medos, mas se calava assim que ameaçava contar sua história. História que ela
disse querer esconder e que não merece ser lembrada.
Que amarras são essas que ainda prendem Edinéia? Como
ajudá-la a sonhar, como Luther King e como fazê-la cantar e viver o velho
gospel negro “Livres enfim! Livres enfim!”?