O chão parece sumir sob seus pés. Um turbilhão de sentimentos tão fortes quase impede a respiração. Angústia, tristeza, raiva, medo, culpa. Tudo o que você mais quer é que pare de doer. Mas a dor continua lá, implacável, lembrando a cada instante que seus sonhos desmoronaram, seus planos precisam mudar, que o “nós” virou “eu”.
Não há fórmula mágica para “sobreviver” ao fim de um relacionamento amoroso. O ponto em que os psicólogos são unânimes é que o luto precisa ser vivido, seja qual for sua intensidade. E há diferenças, dependendo do modo como acaba.
Conforme a psicóloga e terapeuta de casais Solange Maria Rosset, quando os envolvidos compreendem e concordam que a relação chegou ao fim, existe a sensação de perder algo bom, mas também a de levar algo, do aprendizado. Nesse caso, o rompimento é mais tranquilo. “É só uma questão de tempo, de lidar com o luto da perda da relação”, afirma a psicóloga.
Quando a relação não foi boa ou vivida de maneira adequada, são duas dores: da perda e da frustração. “Além de viver o luto, é necessário avaliar o que eu fiz, ou não fiz, que me impediu de ter uma história plena. Essa análise é importante para aprender a lidar com o próximo relacionamento”, diz Solange, que é autora do livro O Casal Nosso de Cada Dia.
Ainda há uma terceira situação, quando uma das partes se sente rejeitada. “Isso decorre de dificuldades pessoais, são indivíduos carentes, dependentes. O sofrimento se torna ainda mais acentuado”, compara Solange. Nessa circunstância, é preciso que a pessoa procure ajuda “para curar essa dor que é dela e que essa perda reativou”. Um sintoma claro desse desequilíbrio é quando, a cada relação que acaba, a pessoa fica deprimida.
Triângulo
Além dessas possibilidades, há um agravante que eleva o nível do sofrimento às alturas. “A traição é a maior dor de um relacionamento”, sustenta a terapeuta. A profusão de sentimentos tem aí mais dois componentes: a própria infidelidade e a deslealdade da mentira. “Às vezes, a falta de lealdade se torna mais séria que a traição. Desculpas esfarrapadas desqualificam a percepção e a inteligência do outro, que se sente ainda mais ferido”, explica a psicoterapeuta Janete Farion.
O drama protagonizado após o rompimento, segundo Janete, não é proporcional ao tempo de relação, mas à sua intensidade. “Quanto mais você se envolve, mais se entrega e mais leal é, maior o sofrimento”, acredita.
Elaborar é preciso
A primeira grande dificuldade é aceitar que acabou. “A única forma é enxergar a realidade, ler todos os sinais. A gente precisa aprender a perder também”, diz Janete. Encarar a relação como algo com começo, meio e, eventualmente, fim, pode ajudar.
“É um processo de elaboração bastante difícil”, afirma a psicóloga. E, como processo, é crônico, vagaroso. “Carece de muita lágrima, muito sentimento, muita dor de cotovelo”, sustenta o psicólogo Dionisio Banaszewski. Sentir e lidar com a perda são posturas imprescindíveis para resolvê-la internamente. “Quando não se consegue dar conta sozinho, é preciso procurar ajuda, seja profissional, de amigos ou da família”, recomenda Banaszewski.
“O luto é extremamente necessário. É preciso entender o que está acontecendo e deixar acontecer. Não dá para virar a página e fazer de conta que nada aconteceu”, adverte Janete. Embora a dor seja algo fora de moda em uma sociedade que supervaloriza a felicidade a qualquer preço, a negação pode ser muito mais perigosa do que a crise. “De algum jeito, em algum momento isso vai aparecer”, assegura a psicóloga.
Pode ser por meio de uma doença física ou emocional, como a depressão. “Queira ou não, você está doente da alma nesse momento, é preciso se tratar com muito respeito, ter compaixão por si mesmo. Não é se fazer de vítima, é se cuidar, se dar esse tempo.”
Quem ignora o processo de luto leva os problemas de um relacionamento para o outro. “Aquela pessoa que mantém o mesmo padrão de relação, fica vítima da mesma história. E costuma dizer que não dá sorte no amor. Não, ela não resolveu suas questões”, assegura Banaszewski.
O balanço passa por avaliar suas atitudes, perceber qual sua contribuição para o fim do romance e mudar o que for preciso. Até o próximo – e, de preferência, mais feliz – relacionamento.
Fonte: Gazeta do Povo
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